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terça-feira, 30 de agosto de 2016

CARONAS

A parte prática, é saber que, sim, funciona igual nos filmes.

Carona em Caxias, interior do Maranhão, indo na "caçamba".



Dedão na estrada pra cima e pra baixo, porém, demora mais. A violência nas estradas brasileiras, tem afastado o hábito da carona sem uma conversa prévia, por isso, menos glamouroso e mais eficaz, é ir diretamente aos postos de BR, aonde concentram-se dezenas de caminhoneiros e ir trocar ideia, mandar a real:

- Boa noite, então, nós somos viajantes, pretendemos ir para "tal lugar", queríamos saber se rolava de ajudar a gente, estamos aqui trocando ideia pra você ver quem somos, pela sua e pela nossa segurança! Se rolar ajudaria muito a gente!

A parte poética é saber que passam por aí, vidas, sonhos
, profissões, que o acaso nos leva exatamente aonde 
precisaríamos estar.


O aprendizado é entender, que não controlamos nosso destino, não apertamos um botão e a carona aparece.



Aprendemos que o contra-ponto constrói, a diferença ensina. Por meios de vida diferentes, falávamos dos mesmos assuntos, com caminhoneiros solitários nas estradas sem fim.



Encerra uma história, tu sai, olha pra trás, agradece, fecha a porta e vai embora. Depois, pensa, repensa, dá risada sozinho. Foi mais um encontro de vidas, de perspectivas.



Será que ele esperava, que o diferente, poderia ter lucidez? Será que no momento da carona, pensariam que poderiam concordar tanto, com esse tipo já subjugado como louco?

Como sempre, a via é de mão dupla, e a surpresa é bem vinda.

Ambos saem balançados, retornam a sua realidade, com a sensação de que agora, ela está somada a realidade do outro, e que por isso, já não pode ser como antes.

A equação é a seguinte:

Carona de Sobral para Caucaia, com um dos caminhoneiros mais firmeza que nos deu carona.


(É a sua realidade) + uma nova).



A DEUSA DA BR, protetora dos viajeiros loucos e livres, segue derramando seu caótico auxílio sobre nossas vidas.

E nós, crianças selvagens, seguimos rindo e aprendendo com a sociedade em (trans)evolução, brincando com as formas de solidariedade que se apresentam longe das amarras do medo.

Longe de ser um conselho irresponsável, não queremos aqui, esquecer que a BR e a carona também podem representar perigo, que é difícil de passar segurança num conselho, aonde o discernimento e a sorte são peças chaves.

Existe questões de gênero na estrada, existe racismo, a sociedade reproduz suas violências também no micro da vida, das suas interações.

Como agentes do caos, que insistem em criar e lutar pelo seu espaço,  todas as formas de viajantes com seus dedões para o alto na estrada, ou com sua corajosa cara-de-pau nos postos de BR, cada qual com seus métodos de defesa, e sua ansiedade costumeira, enfrentam suas próprias lutas e desfrutam a seu modo, do que é a oportunidade do encontro.

Vai dá certo, pô!

terça-feira, 23 de agosto de 2016

VIVENDO DE ARTE DE RUA, SEIS MESES PELO BRASIL



Trem da Vale: Açailândia/ São Luis do Maranhão, Guia Quatro Rodas, nosso GPS no nordeste.

Viajamos durante 6 meses, nesse tempo conhecemos 16 estados do Brasil. Depois dessa volta por aí, retornamos para São Bernardo do Campo (nossa cidade do coração) e ficamos mais um tempo por lá, revendo amigos e família, pra matar a saudade e aproveitar antes que a segunda parte da viagem começasse.

Nesse meio tempo por SBC, pegamos nossas bikes e fomos rodar por algumas cidades do interior de São Paulo, com o objetivo de juntar uma grana.

O plano deu muito certo, então repetimos esse processo de passar um tempo pelo interior, até que voltamos novamente para SBC, ficamos mais um mês e agora partimos.


Finalmente vamos começar a segunda parte da viagem, um rolê pelo resto da América Latina, indo pelo interior de SP, sentido Mato Grosso do Sul, mirando o trem da morte em Corumbá, que nos colocará, na sonhada Bolívia.

Uma reconexão com nossa identidade, a oportunidade de (re)conhecer pueblos y culturas diferentes, mas que não deveriam ser tão diferentes assim, se não tivéssemos tanta influência dos EUA em nossas roupas, fast foods, shoppings e sonhos!

Acerola Amanda, em sua super-bike pelas estrada do interior



O Cronograma dos lugares que conhecemos, foi mais ou menos esse:

Centro-Oeste:
Brasília: Ceilândia, Planalto Central, Planaltina.
Goiás: Parque Nacional da Terra Ronca, Campos Belos, Monte Alegre.

Norte:
Tocantins: Palmas, Araguaína.

Nordeste:
Maranhão: Imperatriz, Açailândia, São Luiz, Caxias.
Piauí: Teresina.
Ceará: Sobral, Caucaia, Fortaleza, Aracati, Canoa Quebrada.
Rio Grande do Norte: Mossoró, Natal, Praia de Pipa.
Pernambuco: Recife Antigo, Boa Viagem, Maracaype, Porto de Galinhas, Palmares, Garanhuns.
Alagoas: Arapiraca.
Sergipe: Aracaju.
Bahia: Alagoinhas, Camaçari, Salvador, Santo Antônio de Jesus, Morro de São Paulo, Feira de Santana, Itaberaba, Chapada Diamantina, Vitória da Conquista.

Sudeste: 
Minas Gerais: São Francisco (Vila do Morro), Montes Claros, Belo Horizonte, João Monlevade, Governador Valadares.
Espírito Santo: Vitória, Guarapari, Cachoeiro do Itapemirim.
Rio de Janeiro: Niterói, Rio de Janeiro, Volta Redonda, Angra dos Reis.

Pelo interior de SAMPA visitamos as seguintes cidades:

Jundiaí, Valinhos, Campinas (Bairro Vira Copos e Barão Geraldo) Paulínia, Americana, Cordeirópolis, Limeira e Rio Claro.


Em breve, disponibilizaremos nossa nova rota!

domingo, 21 de agosto de 2016

GLORIFICAI-VOS: A DEUSA DA BR



Nossa Deusa da BR, encontrada em Governador Valadares


Depois de repetir os mesmos movimentos, numa sequência de prováveis 45 segundos por algumas poucas horas, passar por 
rostos desconhecidos, hora sorridentes, hora tristes ou até mesmo, distantes e distraídos, chegamos a mais um momento importante, a hora em que seu estomago é quem coordena seus passos, é ele quem tem o controle nas mãos, a hora em que o cheiro de comida se torna seu aroma favorito, sim, essa mesmo, a hora do almoço.
Andamos alguns passos, estamos de frente para uma lanchonete, decidimos comer, pedidos feitos, aguardamos, enquanto isso uma novela se passa na televisão e nossa conversa flui naturalmente. Pronto, os lanches e o suco chegaram, hora de atacar.

Agora de barriga cheia, partimos para aquele costumeiro descanso e aquela pausa que pesa os olhos, damos uma esticada nas pernas, aproveitamos um pouco o momento e relaxamos, enquanto isso, entramos novamente em uma conversa que vai fluindo e de alguma forma, que não me lembro qual, começamos a falar de um interesse que tivemos ao mesmo tempo, e do quanto nós dois observamos, depois do almoço, sem nos avisarmos, aquelas belas cocadas, enormes, de maracujá, mas que por algum motivo, as ignoramos e prosseguimos a vida, e só descobrimos sentados, ali, descansando.  

Parece coisa boba, daquelas que sai atoa, num papo gostoso, quando, ali mesmo, naquele instante, um rapaz aparece, entre tantas outras pessoas que caminhavam pelo centro da cidade, nos interrompe, nos entrega uma sacola e sai andando já meio apressado dizendo algumas palavras.

Ficamos com cara de espanto ao ouvi-las, abrimos a sacola para confirmar se aquilo estava de fato acontecendo, parecia que era até uma piada, mas para nossa felicidade, não era uma brincadeira, tinha dentro, acreditem se quiser, duas maravilhosas cocadas de maracujá.

Pois vejam bem, isso é o que costumamos chamar de "Milagre da Deusa", coisas assim acontecem desde a primeira semana em que saímos de viagem e estivemos em um encontro cheio de amor, trocas e energias positivas. 
Após tantos episódios como esse, uns mais simples, outros mais surpreendentes, como por exemplo, encontrar uma barraca no lixo, completamente nova, no dia em que precisávamos de uma, começou a ficar impossível ignorarmos que de forma natural, algo muito bom estava acontecendo. Sem notar exatamente quando, percebemos que já estávamos familiarizados em falar que existia a "Deusa da Br".

Foto dentro da barraca que a Deusa nos presenteou

A Deusa da Br, é uma brincadeira gostosa, uma forma positiva de dizer que coisas boas acontecem o tempo todo, que pessoas maravilhosas cruzam nosso caminho, que presentes nos felicitam e que vibrações de amigos nos guiam pelas estradas. 

Pra você isso pode ter qualquer outro nome, outra importância, explicação ou significado, enfim, desde que te faça bem, estamos todos de acordo!

Então, continue nos enviando todo tipo de energia positiva que puder e pode deixar, que nós mandamos de volta, em dobro!

quinta-feira, 2 de junho de 2016

MANGUEIO, O QUE É ISSO?

Para um Guia de Sobrevivência na Selva de Pedra encontrar-se completo, é necessário além de textos e vídeos tutoriais com dicas básicas - como economizar na comida, aonde ir quando chegar em uma cidade, como acampar em centro urbano, tomar banho e etc -  é preciso frisar algo fundamental, pra você que pretende ter o ato de viajar, como parte produtiva de sua vida, e não como algo externo, turístico, que ocorre aos gostos do destino. Para isso, lhes apresentamos: O MANGUEIO !

Resultado do primeiro farol de nossas vidas
Mangueoquê?


A palavra mangueio, é usada de inúmeras formas por diversos grupos diferentes. Entre os viajeros, é uma gíria típica da estrada, e equivale a uma espécie de "foda" para nós paulistanos (ou brasileiros, não sei como o 'foda' é usado em outras regiões), não pelo significado, mas pela capacidade coringa de se adaptar ao contexto tomando formas diferentes.



Manguear é (uma arte) um verbo do dicionário nômade, e pode significar conseguir algo de graça:



- Então, a gente mangueou esse rango no restaurante, é só chegar depois das 15h, que eles sempre arrumam uma marmita massa!



Para os malabaristas, pode significar um farol - local de trabalho -  que não tá muito bom, porque já tem inúmeras outras pessoas com outros trabalhos, ou porque malabaristas costumam trabalhar ali com uma frequência muito grande:


- Não, esse farol não dá, tá muito mangueado, tinha vendedor de pano de prato, "rodinho" e uma galera da igreja entregando panfleto e pedindo dinheiro... Bora pra outro! 

Também pode ser o ato de negociar algo - valor de transporte, estadia num local teoricamente proibido, entrada num parque nacional:

- Não, não dá. Tá cara essa passagem, aí quebra nosso orçamento, a gente é artista de rua pô, sobrevive de solidariedade! Abaixa esse valor aí pra gente, que a gente fecha com vocês agora!

E inúmeros outros significados próprios, que cada viajero pode ter criado ao decorrer de sua jornada.

Mas neste espaço, nós queremos falar de um outro significado, queremos falar do mangueio enquanto profissão nômade, que você consegue carregar consigo, ou desenvolver através do próprio local por onde passa, criando assim a autonomia necessária para sobreviver na estrada, sem o "receio de gastar todo o dinheiro economizado na pré-viagem", o que muitas vezes impede pessoas de conhecerem realmente a cultura de um povo, ou de somar em projetos por mais tempo, por não poderem prolongar sua estadia.

Nesse contexto, o roteiro da viagem (quando existente) é criado diariamente, despreocupadamente, a partir de cada descoberta, que te leva ao próximo passo.

Existem inúmeros mangueios, desde o famoso artesanato, até pessoas maravilhosas que vendem poesias em ônibus. Realmente as possibilidades são infinitas e privilegia aqueles que possuem mais criatividade e conhecimento naquilo que escolheram. 

O nosso mangueio é o Malabarismo. Ter essa relação com o malabares não significa que temos apenas uma visão econômica do nosso ofício, não, pelo contrário, ter no malabarismo nossa sobrevivência, significa ter um estímulo para treinar e aprimorar cada vez mais nosso número artístico, porque o nível de conhecimento que temos acerca do nosso mangueio está diretamente ligado a criação (e aproveitamento) de todas as possibilidades possíveis no campo circense que possam aparecer na viagem, indo do trabalho cotidiano no farol, até convites para trabalhar em festas, escolas, fazer abertura de rodas em praças e etc.


Evento que participamos, do Coletivo Quebrada-Ativa, na periferia de São Bernardo do Campo. Clique certeiro do Anderson Svanci
 











A nossa qualidade de vida na estrada, também está diretamente ligada ao nosso mangueio. Cada forma de se manter é remunerada de uma forma, e o patrão, juiz definidor dessa quantidade é o seu público. Seu mangueio pode lhe dar 20$ ao dia, assim como pode lhe dar 300$ e isso tem relação direta com diversos fatores, mas principalmente, o quanto de técnica e/ou criatividade que você conseguiu  reunir ali.



Pra finalizar, queríamos dizer que o mangueio é uma ferramenta essencial pra você, que não pertence a classes privilegiadas pelo dinheiro fácil, pelo financiamento externo, ele vem pra possibilitar o acesso ao mundo também a nós, de outras camadas sociais. 



Então, bora desenvolver nossa autonomia, porque viajar é preciso.

Vai dá certo, pô!

MAPA